“MALE” DO ANGOLANO
por Carla Marcos
Diz a música do Génesis que o “male” do angolano é nos “facarmos” entre nós. É duro e diria até que é vergonhoso concordar, mas é a pura verdade. Outro dia estava eu dentro de um elevador (alguns ainda funcionam) e enquanto o elevador subia fui obrigada a ouvir uma conversa entre dois indivíduos que, por coincidência, subiam ao mesmo andar que eu.
“O gajo ´mazé` é candongueiro. Ele compra os mambos no Dubai e vem vender aqui.”
“Aié!!!”
“ Yá. Os mambos no Dubai são bem baratos. O gajo vai lá umas cinco vezes por ano xé.”
“Fogo meu, então o muadié tem massa!!!”
“Yá. Num vês que ele anda com altas carros. Já viste aquele Audi dele? Último modelo!!! Aquilo é caro meu!!
“Possa, nem fala.”
“Agora o gajo quer comprar aquele terreno da minha velha pra construir. Ele até já fez a proposta. A massa é fixe, mas muadié... ele já tem bué de coisa eu ainda vou lhe ajudar mais?!! Nada uí. Ele é igual a mim porque que ele tem que subir mais do que eu? Eu disse na minha mãe pra vender o terreno ´pra`quele` tuga que também está interessado.”
É minha gente. Esse é o grande espírito fraterno do angolano. Não perde uma chance de ver o irmão de pátria no buraco e, se preciso for, ainda joga uma pá de terra em cima.
Se servir de consolo ao kalibrados, gostaria de dizer que em Angola não é complicado só para quem é artista. Qualquer um aqui é alvo de especulações. Seja ele quem for, artista ou anónimo. O que vestiste, o que calçaste, o que comeste está tudo controlado. Nunca fica-se à vontade porque tem sempre alguém a especular. Se andas a pé és ninguém. Se deres bandeira de andar de táxi o teu nome é banido da lista dos 10 mais. Se andas de Audi estas a fazer banga, se compras um starlete falam que seria melhor andares a pé. Se sais para a rua sem uma etiqueta conhecida em pelo menos numa das peças de roupa que vestiste aí parece que cometeste um crime. Ninguém confessa que usa ou já usou roupa de fardo, ninguém assume que come funge, ninguém jamais admite que tem um parente no Rocha Pinto porque se alguém descobre isso também és banido da lista.
Se não tens telemóvel com câmara fotográfica nem te atrevas a atende-lo no meio da malta porque isso é muita bandeira. Não mereces estar na lista dos 10 mais. O jeito é fazer um kilapi para ter aquele telemóvel que tu sabes que só vais acabar de pagar quando Angola ganhar a copa do mundo.
Viver em Angola é mesmo complicado!! Quando tens és alvo de falatório. Se não tens és alvo de comentários. Vai entender!! Não, nós angolanos sabemos todos que no nosso país as coisas não são para serem entendidas, mas sim para serem especuladas, então vou ficando por aqui porque já especulei demais e posso me dar mal pois, como já disseram os Kalibrados, “Luanda é uma selva onde todos querem ser o leão.” Vai encarar?
por Carla Marcos
Diz a música do Génesis que o “male” do angolano é nos “facarmos” entre nós. É duro e diria até que é vergonhoso concordar, mas é a pura verdade. Outro dia estava eu dentro de um elevador (alguns ainda funcionam) e enquanto o elevador subia fui obrigada a ouvir uma conversa entre dois indivíduos que, por coincidência, subiam ao mesmo andar que eu.
“O gajo ´mazé` é candongueiro. Ele compra os mambos no Dubai e vem vender aqui.”
“Aié!!!”
“ Yá. Os mambos no Dubai são bem baratos. O gajo vai lá umas cinco vezes por ano xé.”
“Fogo meu, então o muadié tem massa!!!”
“Yá. Num vês que ele anda com altas carros. Já viste aquele Audi dele? Último modelo!!! Aquilo é caro meu!!
“Possa, nem fala.”
“Agora o gajo quer comprar aquele terreno da minha velha pra construir. Ele até já fez a proposta. A massa é fixe, mas muadié... ele já tem bué de coisa eu ainda vou lhe ajudar mais?!! Nada uí. Ele é igual a mim porque que ele tem que subir mais do que eu? Eu disse na minha mãe pra vender o terreno ´pra`quele` tuga que também está interessado.”
É minha gente. Esse é o grande espírito fraterno do angolano. Não perde uma chance de ver o irmão de pátria no buraco e, se preciso for, ainda joga uma pá de terra em cima.
Se servir de consolo ao kalibrados, gostaria de dizer que em Angola não é complicado só para quem é artista. Qualquer um aqui é alvo de especulações. Seja ele quem for, artista ou anónimo. O que vestiste, o que calçaste, o que comeste está tudo controlado. Nunca fica-se à vontade porque tem sempre alguém a especular. Se andas a pé és ninguém. Se deres bandeira de andar de táxi o teu nome é banido da lista dos 10 mais. Se andas de Audi estas a fazer banga, se compras um starlete falam que seria melhor andares a pé. Se sais para a rua sem uma etiqueta conhecida em pelo menos numa das peças de roupa que vestiste aí parece que cometeste um crime. Ninguém confessa que usa ou já usou roupa de fardo, ninguém assume que come funge, ninguém jamais admite que tem um parente no Rocha Pinto porque se alguém descobre isso também és banido da lista.
Se não tens telemóvel com câmara fotográfica nem te atrevas a atende-lo no meio da malta porque isso é muita bandeira. Não mereces estar na lista dos 10 mais. O jeito é fazer um kilapi para ter aquele telemóvel que tu sabes que só vais acabar de pagar quando Angola ganhar a copa do mundo.
Viver em Angola é mesmo complicado!! Quando tens és alvo de falatório. Se não tens és alvo de comentários. Vai entender!! Não, nós angolanos sabemos todos que no nosso país as coisas não são para serem entendidas, mas sim para serem especuladas, então vou ficando por aqui porque já especulei demais e posso me dar mal pois, como já disseram os Kalibrados, “Luanda é uma selva onde todos querem ser o leão.” Vai encarar?
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